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Investir em quem merece

Ser socialmente responsável compensa. A longo prazo, o valor das empresas com políticas de responsabilidade social aumenta. Esta é a principal conclusão do estudo apresentado pela consultora Deloitte em parceria com o Euronext e a CSR Europe.

Ser socialmente responsável compensa. A longo prazo, o valor das empresas com políticas de responsabilidade social aumenta. Esta é a principal conclusão do estudo apresentado pela consultora Deloitte em parceria com o Euronext e a CSR Europe. Note-se ainda que obrigar as empresas a serem responsáveis parece não ser solução. Uma discriminação positiva e uma maior pressão por parte dos stakeholders parece ter resultados mais positivos - POR ROGER MOR

Investir Em Quem MereceGonçalo Simões e Dominique Gangneux Partner da Deloitte e Manager da Deloitte no Reino Unido respectivamente © www.portalexecutivo.com

»» O “Fórum Investimento Socialmente Responsável”, organizado pela Associação de Responsabilidade Social das Empresas (RSE Portugal) demonstrou que o interesse do mercado por investimentos socialmente responsáveis (ISR) tem crescido nos últimos tempos e deverá crescer ainda mais no futuro. Os recentes escândalos financeiros abalaram a confiança dos investidores e criaram a necessidade, recordou Fernando Teixeira dos Santos, presidente da CMVM. Instalada a desconfiança entre os investidores, ganham as empresas que apostam nos princípios de Corporate Governance e na responsabilidade social. O risco de cosmética financeira é avaliado negativamente pelo próprio mercado. Saem a ganhar as empresas que se mostram socialmente responsáveis. O ISR, geralmente, é feito em fundos de investimento de acções cotadas em índices de bolsa éticos.

O estudo da Deloitte, “Investing in Responsible Business”, demonstra que as empresas socialmente responsáveis verão, a longo prazo, o seu valor de mercado crescer. Esta é a opinião de 79% dos gestores de fundos e analistas inquiridos. Os especialistas adiantam ainda que o ISR melhora a reputação da empresa e da marca e possibilita uma melhor performance económica da organização. O estudo, apresentado por Dominique Gangneux, manager da Deloitte no Reino Unido, esclareceu que os indicadores não financeiros mais importantes na hora de investir são a capacidade de inovar(65%), a aplicação de princípios de Corporate Governance e gestão do risco(54%) e a gestão dos clientes(49%).

Dominique Gangneux defendeu, de acordo com o estudo, que a maioria dos analistas e gestores de fundos(69%) prevê que o interesse no ISR deverá continuar a crescer. Ficou também demonstrado que a evolução do mercado de ISR apresenta duas tendências. 71% dos gestores e analistas acreditam que os produtos com forte valor assente em características de ISR deverão permanecer um nicho de mercado. 52% dos inquiridos defendem também que as preocupações sociais e ambientais irão tornar-se questões decisivas para as decisões de investimento nos próximos dois anos. Soube-se ainda que o mercado de retalho de ISR ronda actualmente os 12,2 mil milhões de euros e o mercado institucional apresenta valores de cerca de 336 mil milhões de euros.

Discriminação Positiva

Fernando Teixeira dos Santos defendeu que o caminho aparentemente mais fácil seria o da imposição de responsabilidades sociais. “Mas as imposições legais, como se traduzem em custos, reduziriam a competitividade das empresas”, esclareceu o presidente da CMVM. Impor estas matérias, a seu ver, só seria positivo caso fosse uma imposição a nível global. Assim já nenhuma empresa sairia desfavorecida em termos de concorrência. Para Fernando Teixeira dos Santos o caminho mais indicado é a pressão social. “Um aumento da pressão sobre as empresas pode fazer com que estas questões sejam vistas como um risco que põe em causa o valor da empresa”. Para o presidente da CMVM é importante definir regras, recomendar as regras de conduta e, por fim, pressionar para que as empresas digam se estão ou não a adoptar as normas recomendadas.

Investir Em Quem MereceFernando Teixeira dos Santos - Presidente da CMVM- © www.portalexecutivo.com

“Devem ser dadas a conhecer as empresas que cumprem as normas definidas. Os consumidores irão dar preferência às empresas com boa reputação e as empresas não cumpridoras, ao serem penalizadas, irão também adoptar as normas definidas”, acrescentou. Uma ideia recorrente no fórum. Também João Freixa, presidente do Euronext Lisboa, defendeu que um dos caminhos para o crescimento dos investimentos socialmente responsáveis é a discriminação positiva. A seu ver, já que a adopção de políticas de responsabilidade social é voluntária, devem ser dados a conhecer os exemplos de quem é socialmente responsável. João Freixa afirmou que o Euronext tem estado envolvido na divulgação do conceito de responsabilidade social, daí ter apoiado a realização do estudo apresentado e apoiar igualmente o lançamento de fundos de índices de empresas com desempenhos sociais positivos.

Ainda no que respeita à discriminação positiva, uma ideia também apoiada por Filipe Pinhal, administrador do Millennium BCP, ficou assente que a regulamentação, fiscalização e punição não é a solução para que as empresas sejam mais responsáveis. Filipe Pinhal lamenta que o poder político não se mostre interessado nesta temática. Mas justifica esta falta de interesse. “O poder determina se dado assunto dá votos ou não. Se dá votos fala-se e criam-se leis. Se não der votos, esquece-se”, disse.

“Há interessados nos fundos éticos”

Gonçalo Simões, Partner da Deloitte, esclareceu que o conceito de responsabilidade social implica sempre uma forma voluntária, um interesse a longo prazo e nunca uma obrigatoriedade legal. “Existem quatro critérios de selecção de ISR por parte dos investidores”,disse, passando a enumerá-los. Os investidores podem optar pelos critérios negativos, ou seja, definir por que não se investe em determinadas empresas, tais como as produtoras de armamento, energia nuclear ou mesmo de tabaco. Um segundo critério para a selecção é construir portfólios de investimento em empresas com reconhecidas preocupações ambientais e sociais. O investidor poderá optar por um critério de influência, ou seja, o uso de um diálogo intensivo com os responsáveis de topo, de modo a alterar o seu comportamento social e ambiental. O quarto e último critério está relacionado com o activismo. Através deste critério, o investidor poderá pressionar a empresa a ser socialmente responsável através do veto de relatório de contas das empresas, se estas não publicarem o seu desempenho ambiental, por exemplo.

Fernando Ribeiro Mendes, presidente da RSE Portugal, associou a crescente preocupação de investimento socialmente responsável com a mudança do sistema empresarial português. Em entrevista ao PortalExecutivo, Fernando Ribeiro Mendes explicou por que motivo estes dois fenómenos são indissociáveis. “Isto reflecte uma mudança da opinião pública e também dos sistemas empresariais. Há aqui uma mudança mais profunda. Saímos de um sistema empresarial muito baseado nas famílias, de tipo dinástico, passámos por formas de capitalismo popular e depois por um capitalismo de investidores institucionais.É nesta fase que estamos. Os fundos de investimento entraram em força no nosso mercado de capitais”. E acrescenta que, cada vez mais, os investidores institucionais ponderam as preocupações sociais e ambientais na hora de seleccionar o investimento. Facto que o leva a afirmar que “os investidores institucionais têm um papel determinante”.

Investir Em Quem MereceFernando Ribeiro Mendes - Presidente da RSE Portugal - © www.portalexecutivo.com

O presidente da RSE defendeu ainda que Portugal deve apostar na divulgação do ISR já que “há um mercado de fornecedores e consumidores interessados nos fundos éticos”. Fernando Ribeiro Mendes esclareceu ainda quais os motivos que levam algumas empresas a estar de costas voltadas para a responsabilidade social. “Os benefícios são de longo prazo e a gestão das empresas, muitas vezes, é uma gestão do dia-a-dia, de curto prazo. Os benefícios a longo prazo são mais notórios nas grandes empresas. As pequenas empresas não têm, muitas vezes, consciência dos ganhos que também elas têm com a responsabilidade social, até porque não identificam algumas das suas praticas como sendo de responsabilidade social”, disse. As PME têm relações muito estreitas com a comunidade onde se inserem, e apoiam muito o clube ou a misericórdia local, mas devido à ausência de uma política de responsabilidade social, não identificam estas acções como tal.

"Muitos dos gestores das PME, e mesmo de grandes empresas, têm uma visão de curto prazo. Essa visão não é saudável, está provado, mas é um facto e tem muito a ver com o governo das empresas. O gestor tem mandatos de duração limitada, logo tem uma lógica de 3 a 5 anos. A lógica de longo prazo é mais do que esse tempo”, acrescentou Fernando Ribeiro Mendes, que defende o envolvimento dos stakeholders nestas matérias. Para ele, a “responsabilidade social deve ser assumida de uma forma duradoura pelos stakeholders. Devem ser estes a fazer uma pressão sobre a gestão para que ela leve em linha de conta esse interesse a longo prazo”.

Consulte o estudo “pdfInvesting in Responsible Business” na íntegra.

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